Publicado originalmente na newsletter Inovação Empreendedora.
Em algum momento de sua jornada inovadora as startups, se não todas em grande parte, irão empreender esforços por fundraise, uma busca por capital financeiro para alavancar o novo negócio, para ganhos de velocidade e escala de modo consistente. Então, antes de sair batendo em portas, é necessário compreender quais são as categorias de investimento por estágio do empreendimento e entender que tipo de capital buscar e alguns pontos que merecem atenção a cada categoria.
Sem esgotar o assunto, vamos explorar os tipos de investimento para startups e scale-ups adquirindo visão e compreensão geral básica de cada categoria. Mas fica um alerta, sempre consulte um advogado especialista antes de se comprometer com investidores, entendendo direitos e deveres, antes de assinar qualquer contrato com diluição de participação no empreendimento.
Do investimento anjo ao private equity, a participação dos investidores se dá por distribuição de equity (participação). Então, um ponto de atenção crítico é observar a diluição da participação inicial de 100% dos sócios-fundadores a cada rodada de investimentos. Outro ponto de atenção é o chamado equity morto, ou seja, dar participação na sociedade para pessoas que não contribuem ativamente no negócio, que não empreendem esforços de trabalho ou investem dinheiro no crescimento da empresa. Não há uma regra rígida sobre a participação dos sócios-fundadores, qual seria a diluição máxima ou a cada rodada, mas existem algumas práticas comuns a cada categoria a observar.
Bootstrapping e Investidores FFF
Esse é o primeiro nível de investimento em um negócio embrionário, é um autofinanciamento pela aplicação de capital pessoal dos empreendedores na startup. Também podemos encaixar nesta primeira categoria eventual capital FFF (de Family, Friends and Fools), numa tradução livre, capital de familiares, amigos e conhecidos. É um financiamento com recursos dos próprios empreendedores e de pessoas próximas, sem partilhar capital com pessoas de fora do rol de relacionamentos tradicional dos fundadores ou obter empréstimos junto a bancos.
Pontos de atenção:
- Controle da taxa de gasto do dinheiro (cash burn rate) reservado ao empreendimento
- Potenciais conflitos pessoais entre os fundadores e os “investidores” FFF
Crowdfunding
É uma espécie de “vaquinha virtual”, um financiamento coletivo (crowdinvesting) obtido de apoioadores da solução inovadora. Para obtenção dessa forma de capital o empreendedor pode fazer uso de uma plataforma de crowdfunding online pela qual apresenta seu projeto. A arrecadação de fundos ocorre pelas contribuições de apoiadores, que pode ser em troca por equity ou de algum benefício pela contribuição ou simplesmente por apoiarem o propósito (uma causa nobre) oportunizado pela solução.
Pontos de atenção:
- Taxas (sobre as doações e saques) e regras para saque (tudo ou nada, flexível) dos recursos arrecadados pela campanha
- Potencial desencontro entre expectativa e realidade entre os empreendedores e os apoiadores
- Retorno a questionamentos dos apoiadores do projeto
Investimento Anjo
Essa é, de fato, a primeira rodada de investimentos profissionais, feito por pessoas físicas (profissionais experientes) que acreditando na solução proposta pela startup têm interesse em participar do projeto, esperando ganhos futuros sobre sua aplicação de capital. Esse investimento pode ocorrer em um estágio muito inicial da startup, ainda no campo da ideação, mas é mais provável ocorrer em um estágio onde a solução inovadora já está validada e há um movimento inicial de tração. É comum o investidor anjo aportar, além do capital financeiro, seu capital intelectual em prol do novo negócio, oferecendo seus conhecimentos, experiências e networking (o chamado smart money), participando de tomadas de decisão e resolução de problemas. É uma aplicação que se encaixa bem no estágio inicial de ida ao mercado (go to market) para um ajuste fino (product market fit) da solução ao mercado mainstream (público alvo que busca por soluções completas e convenientes).
Pontos de atenção:
- Diluição no valor dos fundadores, recomendando-se que mantenham no mínimo 84% da participação
- Cláusulas restritivas, como fundador não podendo sair e não fundar empresa concorrente
Investimento Seed
Essa é uma categoria de investimento acima do investidor anjo, com um ticket médio superior. O alvo do investimento são startups com escala, conhecidas como scale-ups, que já possuem uma boa carteira de clientes, um rol soluções bem definido, mas ainda dependentes de investimento para consolidação do mercado e expansão dos negócios.
Pontos de atenção:
- Diluição no valor dos fundadores, recomendando-se que mantenham pelo menos 75% da empresa após a rodada
- Cláusulas restritivas, como fundador não podendo sair e não fundar empresa concorrente
Séries A e B
Os investimentos séries A e B buscam empresas com soluções bem ajustadas (product market fit) e escalabilidade, com um canal de vendas provado. O investimento série A tem seu alvo no ajuste da capacidade de entrega e incorporação de lideranças à operação para além dos fundadores. A série B tem aplicação focada em escalar o crescimento e no aprimoramento dos processos críticos. Para obtenção do investimento série B pode ser necessária a estruturação de um processo de governança para a empresa.
Pontos de atenção:
- Diluição no valor dos fundadores, sedo uma referência manter participação maior que 65% após investimentos série A e mais de 50% após série B
- Cláusulas restritivas, como fundador não podendo sair e não fundar empresa concorrente
- Investidores participam da tomada de decisão, com poder de veto
Growth Capital
Essa categoria de investimento se aplica a uma aceleração de crescimento, pela ampliação de capacidades ou mesmo restruturação da operação, para exploração de um novo mercado, ou mesmo financiamento para uma aquisição (M&A) importante à expansão dos negócios. Exige que a empresa esteja em estágio de profissionalização.
Pontos de atenção:
- Envolvendo operações offshore os fundadores deverão contratar advogados no exterior
- Investidores participam da tomada de decisão, com poder de veto
Private Equity
É uma categoria de investimento que pode ser buscado para promover crescimento orgânico, ampliando sua capacidade de produção e entrega, ou para realizar uma expansão geográfica de seu mercado, ou ainda para reduzir sua alavancagem financeira.
Pontos de atenção:
- O fundo poderá ser majoritário, com mais de 50% de participação na empresa
- A empresa deverá ter um processo de governança, com um conselho constituído com a participação de representantes dos investidores
- Envolvendo operações offshore os fundadores deverão contratar advogados no exterior
- O fundo pode vetar questões relevantes ao negócio
- Potencial desalinhamento quanto ao momento e forma de saída do fundo
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